Na última terça, 1 de Abril, completou-se 50 anos do golpe militar no Brasil, responsável por instaurar um regime ditatorial cruel que perduraria pelos próximos 21 anos. Diante disso o Levante Popular da Juventude saiu às ruas para relembrar à população os crimes hediondos que foram cometidos durante esse período e cobrar do Estado o julgamento e condenação das pessoas responsáveis.
Em Minas Gerais houve ato na capital e em várias cidades do interior. As intervenções que envolveram desde escrachos públicos, mesas-debate a até esquetes teatrais, aconteceram em mais de 10 cidades de todas as regiões do estado e foram bem recebidas pela população. Ao todo estima-se que se tenha atingido em torno de 30 mil pessoas direta ou indiretamente. Atividades parecidas foram realizadas nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e no Distrito Federal.
No Norte
Em Montes Claros, o Levante realizou junto ao CA (Centro Acadêmico) de Ciências Sociais da Unimontes uma semana de debates e atividades sobre o golpe militar.
Na segunda-feira, 31 de março, foi montado uma exposição com fotos e charges da ditadura. Na terça-feira, 1 de abril, aconteceu no espaço do CA o seminário “1964 nunca mais: significados da ditadura militar para a sociedade brasileira”. E na quarta-feira, 2 de abril, foi realizado um cinema comentado do filme “O dia que durou 21 anos”.
Na Zona da Mata
Na manhã do dia 1º, em Juiz de Fora, estudantes e professores da Faculdade de Serviço Social (UFJF -Universidade Federal de Juiz de Fora) foram surpreendidos com pichações de exaltação à “Revolução de 1964”, ameaças “Fora comunistas!”, murais destruídos e o comunicado de que “em nome da paz e da ordem” instaurava-se um novo Regime e que todos(as) aqueles(as) que se opusessem seriam declarados inimigos da Pátria. Cientes do impacto que tal ação causou à comunidade acadêmica o Levante Popular da Juventude e o DA (Diretório Acadêmico) do Serviço Social vem a público esclarecer que a ação cumpriu seu objetivo: denunciar o que representou para o país vinte e um anos de um Regime de Exceção e que Golpe e Ditadura não se comemoram.
Na cidade de Viçosa os jovens da célula estudantil do Levante realizaram uma intervenção teatral encenando a tortura de Virgilio Gomes da Silva (codinome Jonas) e a morte de Carlos Marighella, o inimigo número 1 da ditadura. Jonas foi um dos idealizadores do sequestro do embaixador estadunidense Charles Elbrick em 4 de setembro de 1969 que posteriormente foi trocado por 14 presos políticos. Ele também foi um dos fundadores (ao lado de Carlos Marighella) da Ação Libertadora Nacional (ALN).
A ação que foi realizada no barzinho do Diretório Central dos Estudantes contou com declamação de poemas, batucadas e gritos de ordem. Houve muitos aplausos ao final.
No Vales docJequitinhonha e Rio Doce
Em Araçuaí, ocorreu uma mesa-debate com reflexões sobre o contexto do município de Araçuaí no período da Ditadura Militar e a perseguição por parte das forças armadas do regime, sofrida pelos indígenas na região. A atividade, que foi uma iniciativa em parceria entre o Levante Popular da Juventude e o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), Campus Araçuaí, ocorreu em dois turnos: manhã e noite, para que envolvesse todas as turmas do cursos do IFNMG.
Em Governador Valadares, o Levante Popular da Juventude, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o Movimento dos Atingidos por Barragens e o Coletivo Quilombo realizaram um ato político no Aeroporto Coronel Altino Machado. O objetivo dos manifestantes foi re-batizar a instalação que possui nome de um dos principais articuladores do Golpe Militar de 1964 no estado.
O nome escolhido pelos Movimentos Sociais para substituir o atual foi o de Francisco Raimundo da Paixão. Chicão, como era conhecido, foi uma das lideranças que na época do golpe lutava pela reforma agrária e justiça social na região do Vale do Rio Doce, ele era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais que congregava mais de 2000 camponeses.
No Sul de Minas
Em Alfenas, o Levante Popular da Juventude realizou no dia 02 uma mesa redonda em parceria com os professores do Instituto de Ciências Humanas e Letras da UNIFAL – MG que discutiu os processos de ditadura na América Latina e no Brasil. O evento contou também com a presença de Soloni Viana, jornalista no período militar, que relatou parte da sua história e de seus companheiros de militância. O evento contou com a participação de cerca de 300 pessoas.
Em Lavras, na madrugada do dia 1º, o Levante percorreu ruas da cidade e da UFLA (Universidade Federal de Lavras), colando lambe-lambes para mostrar o significado da Ditadura Militar no Brasil, destacando a importância em denunciar a tortura como principal mecanismo de coerção do Estado naquele período. E além disso, expor o vínculo que existiu entre a Rede Globo e o golpe de 1964.
Região Metropolitana de Belo Horizonte
Em BH, na manhã do dia 1º, o Levante organizou um “escracho” ao ex-coronel Pedro Ivo dos Santos Vasconcelos, militar que “atuou no DOPS de Belo Horizonte e é apontado pelos relatórios do projeto “Brasil: Nunca Mais” como o autor de inúmeros crimes durante os anos de 1969 e 1971”, afirma Renan Santos, militante do Levante.
Sobre o escracho do ex-coronel já publicamos uma matéria completa neste blog que você pode conferir clicando aqui.
Ao final da jornada saímos convictos de que a mensagem foi passada. Reivindicamos da Comissão Nacional da Verdade a apuração sobre as denúncias realizadas nos escrachos e também que o Estado brasileiro revise a Lei da Anistia, responsabilizando ex-militares por crimes como tortura e ocultação de cadáver. Não descansaremos até que todos os criminosos sejam julgados e condenados e que assim possamos abolir da nossa sociedade a impunidade, a tortura e o autoritarismo heranças da ditadura tão presentes nos dias atuais.